É janeiro. Férias escolares para algumas crianças. Digo algumas porque muitas delas não têm este direito. Vítimas do sistema, os pais são obrigados a colocá-las nas colônias de férias que são recreativas e agradáveis como deveriam ser a escola nos seus dias letivos normais. Porém, o poder de forma sutil dita normas que, sem uma análise reflexiva sobre o nosso sistema educacional, a infância passa a ser também mais um objeto deste mercado, fazendo-a trampolim para a vida adulta e não uma fase essencial ao bom desenvolvimento emocional, físico e cognitivo do ser humano. Neste atropelamente vamos passando por cima de aspectos bem peculiares a esta fase que nunca voltará, comprometendo o período mais curto e fecundo de nossas vidas. Ninguém para e consequentemente ninguém pensa. Neste caso, quando o adulto não pensa, a infância é quem padece. Quando a infância padece nas mãos de um sistema educacional falido, como é o nosso, faz surgir o que vem crescendo hoje por todo mundo entre famílias onde há um maior limiar de leitura e uma preocupação com o nosso potencial humano: a desescolarização.
São mães e pais sensíveis e com autonomia intelectual que decidiram que a escola não vai deformar suas crianças e assumiram a dianteira com conhecimento e sensibilidade. Suas crianças não crescerão quadradas. Ao invés de tê-las sendo treinadas a terem postura de estudante, propõe atividades com projetos de vida. Já se levantou a bandeira dos contras a desescolarização, mas observe que isso aflige muito os que não têm coragem de romper.
Eu particularmente compreendo bem esta tomada de consciência porque um dia, há quase trinta anos atrás, decidi que minha filha então com seis meses mereceria ter a escola onde pudesse crescer com sua infância respeitada, deixando o solado dos seus pés receber a energia magnética da terra, brincando ao ar livre com água, areia, etc. correndo, pulando e subindo em árvores. Nasceu então a Escola Sempre-Viva, que respeita a infância e as crianças. Ao saírem de lá com a primeira fase do Ensino Fundamental concluída, acreditem, não saem analfabetos. Pesquisem em todas as escolas de João Pessoa o desempenho dos alunos que passaram a infância brincando e aprendendo na Sempre-Viva e tire a sua própria conclusão.
(Olga Brasil)