É preciso um olhar sutil para perceber como nos tornamos a cada dia uma sociedade bem mais desumanizada. É fato que aumentou a longevidade, então não seria lógico alargarmos, ou pelo menos respeitarmos, a etapa mais importante de nossa vida, a infância? Tudo pelo progresso. Que progresso?! Cresce o capital, os arranha-céus e decresce o tempo dos pais com os filhos, a liberdade de brincar correndo livremente em contato com a natureza, de pés ao chão e rosto ao vento.
Decresce a sensação construtiva da conquista de subir nas árvores, brincar com água, areia, fazer comidinha de mentira. A própria escola, que poderia proteger esta fase mais lúdica e criativa da vida do homem, também já se rendeu à pressa que o mercado impõe. Oficialmente a idade de alfabetização é seis anos, mas já estão comercializando alfabetização aos cinco. Seria para beneficiar as crianças? Não, para agradar aos pais.
Isto não seria tão mal se esta aquisição de leitura e escrita acontecesse espontaneamente. Podemos apressar os rios? Somos tão insensíveis que não observamos nem a natureza para nos guiar e assim vamos engarrafando a infância, esquecendo que quanto mais estímulo à criação a criança tiver, maior criatividade terá também na sua vida adulta. É preciso olhar com mais amorosidade a vida infantil. Se vivermos intensamente cada etapa, dificilmente seremos adultos olhando para trás, tentando tapar os buracos que foram deixados na sua infância. A infância pede passagem para brincar livremente, rolar na areia, criar, expandir-se. A aquisição da leitura e escrita deve se dar também como uma gostosa brincadeira. Vamos garantir pelo menos dez anos felizes às nossas crianças, pois nunca se sabe os caminhos que a vida levará.
(Olga Brasil)