A capacitação em serviço, para nós, é a sobrevivência do nosso projeto. Visa primordialmente o crescimento contínuo e conjunto da equipe que tem como prioridade não matar a beleza da infância, não coibir as manifestações lúdicas e fantasiosas que brotam das cabeças infantis. A capacitação faz com que nós, os adultos, nos coloquemos na posição de acolher esta riqueza. Assim, podemos estabelecer uma relação entre o que oferecer, preservar e proteger do mundo infantil, bem como nos colocar em condição de perceber que este mundo tão fascinante e brilhante, de criação e imaginação, pode também nos beneficiar e tornar o mundo adulto mais adocicado, criativo e estimulante. Transportar-nos para o essencial, para o verdadeiro, para o suave.
É nessa perspectiva que vemos e valorizamos tanto nossas formações continuadas – que é uma formação suis generis. É um momento de crescimento mútuo onde toda comunidade escolar -funcionários, professores, coordenadores, diretores – trabalha pedagógica e emocionalmente com uma perspectiva única de estar bem consigo mesmo e em relação com o outro. Este outro é o meu colega de trabalho, o meu aluno, a mãe ou o pai do meu aluno, o meu vizinho, etc.
A escola é um conjunto de pessoas que precisam estar bem para cumprir o que nos ensinou Paulo Freire: “Escola é um lugar de gente feliz”. Sabiamente e com a simplicidade de um educador político e sensível, Freire nos mostrou o objetivo principal da escola: ser um espaço onde todos se sintam felizes. A primeira troca não é de conhecimento mas de se colocar em relação com o outro. E o que permeará esta relação? O nosso desejo é que primeiramente seja o afeto. Até porque o conhecimento é uma busca, uma necessidade de quem já supriu a primeira das demandas. Conhecimento é um segundo batente – até porque já temos nosso córtex estendido.
Nossas paradas para reflexão sempre foram um dos pilares fortes de sustentação da nossa proposta. É aqui que a escola cresce, reflete e se recoloca no seu projeto inicial: ajudar a criança a crescer em todos os ângulos, sem tirar-lhe a infância, sem desperdiçar suas inteligências múltiplas, unindo mente e corpo, razão e emoção, formando o ser ético e estético. Este momento é sagrado e indiscutivelmente o mais significativo na trajetória da escola por um simples motivo: a criança deixa o aconchego do seu lar, os cuidados maternais e paternais, seus brinquedos, seus ambientes familiares, seus espaços sagrados em troca de quê? O mínimo que temos enquanto escola a oferecer-lhe é a garantia de que sua infância com todos os seus desejos-necessidades de descoberta e experimentação do mundo sejam mantidos, respeitados e até instigados. A formação em serviço gera em todos – do porteiro ao diretor – esta dimensão.